A jóia da aldeia
A sociedade Recreativa Pintainhense, como qualquer colectividade, retrata o perfil da comunidade em que se insere, pelo que podemos desde já referir, sem receio de faltar a verdade, de povo que cultiva tradições e valores herdados de anteriores gerações.
Contudo sempre mostrou saber adaptar-se à evolução dos tempos. A história desta agremiação está repleta de exemplos elucidativos da unidade, dinamismo e determinação do povo pintainhense. Procuraremos trazer aqui à memória o que há demais significativo na já histórica vida da que foi durante muitos anos “A Casa do Ensaio”.
O ano de 1927 é aquele que nos aparece como sendo o da fundação daquela que é hoje a Sociedade Recreativa Pintainhense. Dois anos mais tarde a associação então criada é baptizada com o nome de Grupo Musical Pintainhense, nome que reflecte claramente a importância que a música tinha na comunidade. Essa importância resultou da acção predominante de José Maia “Carpinteiro” que impeliu pela sua própria formação musical, reúne alguns amigos e conterrâneos, que actuavam em bandas da região, e forma o grupo musical da aldeia que iniciou com uma tarde de convívio uma actividade que perduraria até ao início da década de 70.
Seria a dedicação e dinamismo de um outro homem, José Martins Maia, a levar as populações dos Pintainhos e Carreiro de Areia a unirem-se na edificação da casa-sede. Decorria então o ano de 1935, altura em que, com as quotizações se adquiriram os primeiros instrumentos realmente propriedade da colectividade. A predominância de instrumentos de corda levou à reorganização do Grupo, então com cerca de 30 elementos, numa Tuna que registou o seu primeiro êxito num concerto no Rossio do Carmo, em Torres Novas, com a actuação conjunta com a Banda da G. N. R.
É a tuna que, levada por grande determinação e iniciativa, cria em 1940 o Grupo de Teatro.
A actividade cénica marcou indiscutivelmente, ao longo de mais de três décadas, a vida da colectividade. A arquitectura do interior da casa-sede retrata bem a preocupação que existiu em criar condições para a realização de espectáculos de teatro, a forma do palco e dos camarotes a fazerem lembrar as grandes salas de teatro do país. Por essa sala passaram estilos de representação tão diversos como a Revista à Portuguesa por uma companhia do Parque Mayer e o teatro de pesquisa pela companhia de teatro “A comuna”.
È difícil falar de teatro nos Pintainhos sem falar sem falar novamente de José Martins Maia. Foi ele que durante a década de 40 arrastou para as pancadas de Molière várias gerações, pesquisando, montando e encenando peças que depois de apresentadas na sede eram levadas em tournée pela região. Chegou mesmo a conquistar um 1º prémio num festival na Meia-Via. A actividade, que chegou a produzir um espectáculo por ano, foi interrompida em 1976. Espera-se que a saudade desses tempos possa fazê-la reviver.
A actividade musical foi também a base de uma outra forma de cultura e convívio - os bailes.
Eram realizados com as regras e disciplina vigentes na época. As mães das raparigas, sentadas na fila de cadeiras atrás destas, davam indicação se o pretendente à dança estavas a contento, mas, menina que desse “tampa” numa dança com estava impedida de dançar com outro rapaz nessa série; os homens não podiam dançar sem a indispensável e por vezes incómoda gravata; as entradas eram livres mas os senhores estavam obrigados a levar a dama ao bufete, sob pena de não dançarem mais essa noite. Todo este cerimonial dava aos bailes dos Pintainhos grande dignidade e prestígio.
A abrilhantá-los estava quase sempre o grupo musical da aldeia que foi vendo o número de elementos diminuir ao longo dos anos, chegando ao mínimo de dois saxofonistas e um baterista, apelidados com muito carinho de “2 e 1”.
Entretanto, a instalação da televisão, na já então designada sociedade Recreativa Pintainhense, surge em 1967 com a chegada da electricidade à aldeia. Única no lugar durante vários anos, foi mais um factor de encontro e convívio não só dos habitantes dos Pintainhos como dos do Carreiro de Areia que aí se deslocavam para assistir aos Festivais da Canção, às famosas Noites de Teatro, ao Hóquei em Patins, Touradas e Jogos de Futebol. Persiste também na memória o cartaz informativo”Só” é permitida a entrada a sócios, que muito contribuiu para o aumento de associados.
Embora talvez menos relevantes na história da colectividade não podem deixar de ser assinalados os torneios de Sueca que tiveram a sua primeira edição em 1979, a realização de várias Festas de Verão e a organização de várias Festas de Verão e a organização das Comemorações do 25 de Abril em colaboração com a Junta de Freguesia de Sant´Iago. Não consta que alguma vês se tenha dedicado qualquer actividade de cariz político, não se livrando no entanto das rondas efectuadas pela polícia politica. No período seguinte ao 25 de Abril assumiu uma posição pluralista ao ceder as suas instalações para sessões de esclarecimento promovidas pelos partidos políticos que o solicitaram.
Como foi apanágio ao longo da sua história, a Sociedade Recreativa Pintainhense sempre soube adaptar-se às exigências e necessidades da comunidade onde está inserida. No final dos anos 80, a casa que serve de sede à colectividade estava num avançado estado de destruição e degradação pelo que não reunia já as condições mínimas para responder às solicitações. Tornou-se por isso imperioso recuperar e redimensionar as suas instalações.
É assim que em 1993 e com a comparticipação do Estado, se iniciaram as obras de remodelação das instalações que passaram pela ampliação do espaço da sala, pelo prolongamento dos camarotes, pela criação de espaços de apoio ao palco, pela ampliação da cave, onde viria a ser construído o bar e instalações sanitárias e também pela reorganização do espaço exterior envolvente. O objectivo era dotar estes espaço, de vital importância para a população, de condições compatíveis com as exigências e padrões da vida actual, para que voltasse a ser o espaço extraordinário de cultura, recreio e convívio eleito pelos Pintainhenses. E foram os sócios e amigos da colectividade, que com grande esforço, dinâmica e dedicação a esta casa, permitiram que a obra vingasse. São esses mesmos valores, esses mesmos quereres que têm mantido viva a “Jóia da Nossa Aldeia”.
Actualmente proporciona à população a abertura diária de um espaço de convívio através de um serviço de bar, actividade de ginástica para pessoas de todas as idades, a realização de bailes a fazer lembrar outros tempos…
Pesquisa e texto de: Jorge Jerónimo. ( Filho de António Jerónimo e de …..)